Terça-feira, 22 de Maio de 2007

Texto 10

O Conceito
 
  
121. O conceito é uma ideia geral,
        acessível ao espírito mas não aos sentidos.
        O que os sentidos captam não é o conceito mas o termo.
 
122. Abstrair significa considerar em pensamento apenas uma parte de um todo.
        É por via da abstracção que a razão acede ao conceito,
        o qual exprime uma classe de objectos.
 
123. A abstracção é a capacidade que o espírito possui de isolar mentalmente,
        de um conjunto de seres concretos, o seu elemento comum,
        pondo de parte aquilo em que diferem.
 
124. Existe uma semelhança entre extrair e abstrair. Assim como
        o cirurgião extrai um tumor do corpo do seu paciente,
        a razão abstrai, de um grupo de entes individuais,
        uma qualidade que lhes é comum a todos.
 
125. A diferença reside em que essa última separação ou ablação
        não é de ordem física ou material, mas puramente mental.
 
126. O que legitima a objectividade de uma ideia geral é que esta se forma
        a partir de semelhanças reais que existem entre as coisas.
        O conceito não é uma criação arbitrária do sujeito.
 
127. A abstracção gera o conceito,
        mas não a realidade à qual este se refere.
 
128. Não confundamos uma realidade com a ideia que temos dela.
        Aquilo que é contemplado é irredutível ao conceito que dele formamos.
 
129. Uma coisa é o conceito, outra coisa o seu referente.
        A existência de um objecto precede o modo como nós o concebemos.
        Uma realidade não precisa de ter um conceito que a identifique para ser o que é.
 
130. "Morte", por exemplo, não é apenas uma noção.
        Corresponde a algo real fora da mente.
 
131. Até um animal não deixa de morrer
        apesar de nunca ter conceptualizado a morte.
 
132. Da percepção das coisas belas
       chega-se à conceptualização da Beleza.
        A formação do conceito tem carácter indutivo.
 
133. Mas os sentidos não conseguem captar nem a razão abstrair
        senão aquilo que já se encontra presente nas próprias coisas.
 
134. Antes de estar nos olhos de quem a vê,
        a beleza é uma qualidade dos objectos. Reside neles.
 
135. Um pôr-do-sol sobre o mar é objectivamente mais belo
        do que uma lixeira a fumegar num dia de chuva.
 
136. Que cada qual seja em parte refém da sua própria subjectividade
        não autoriza ninguém a considerar tudo como subjectivo.
 
137. Mas nem toda a Beleza é de ordem sensível.
        Um acto de coragem é moralmente belo.
        Existe realmente uma beleza interior.
 
138. Muitos só atribuem realidade àquilo que for observável,
        o que constitui uma espécie de miopia intelectual.
        Só vêem o que estiver na ponta do seu nariz.
 
139. Uma verdade matemática não deixa de ser real, embora a seu modo.
        Um castelo pode cair em ruínas, mas as entidades imateriais são imperecíveis.
 
140. Se é certo que quem o descobriu tenha morrido há 25 séculos,
        o teorema de Pitágoras permanece para sempre.
        Nem tudo está sujeito ao devir.
 
141. Sendo o conceito um ente de razão, abstracto e incorpóreo,
        não pode ser transmitido a terceiros sem o recursoa uma linguagem.
 
142. Esta é criada pelo homem e serve de instrumento de comunicação,
        podendo ser escrita, verbal, gestual ou pictórica.
 
143. Não são os sentimentos ou as ideias que são audíveis, tangíveis ou visíveis,
        mas sim os símbolos ou os sinais que os representam e exprimem
        através de códigos sistematizados predefinidos.
 
144. Os sons articulados (na fala) ou outros efeitos sonoros preestabelecidos
        (ex: a sirene de uma ambulância ou uma salva de palmas)
        transmitem um determinado significado.
 
145. Se os sentidos captam os sinais gráficos, gestuais ou sonoros,
        cabe exclusivamente à razão interpretar o que estes querem dizer.
 
146. “Quem vê caras, não vê corações”.
        O que nos vai na alma escapa aos sentidos dos demais.
        São as expressões do rosto (ex: um sorriso), os gestos e as palavras
        que manifestam o nosso mundo interior. “A boca fala da abundância do coração”.
publicado por Marc Calicis às 15:03
link do post | favorito

Marc Calicis

Licenciado em Filosofia pela U.C.P.

Vila do Conde

Ano Lectivo de 2009 - 2010